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Como Greta Gerwig fez de “Lady Bird” um filme tão especial?

Listamos alguns dos maiores trunfos da estreia solo da diretora, que tem cinco indicações ao Oscar

por Virgílio Souza

À primeira vista, “Lady Bird” parece uma história comum contada de maneira convencional. Pouco a pouco, no entanto, o filme revela suas (várias) qualidades e se prova resultado direto do trabalho de Greta Gerwig, sua diretora, pela primeira vez atuando solo na função — e já merecidamente indicada ao Oscar na categoria. Abaixo, listamos alguns dos ingredientes que tornam essa experiência tão especial.

AVISO: Contém spoilers

A primeira imagem que vemos em “Lady Bird” é de mãe e filha dividindo a mesma cama tranquilamente, um indício de que essa é uma história sobre elas. Passado o clima pacífico do início, o que vemos são encontros que alternam discussões acirradas e demonstrações de carinho quase sempre interrompidas. Tudo embalado em pequenas cenas que funcionam como janelas para relacionamentos do tipo: naturalmente complexos, mas raramente encarados com tamanha franqueza no cinema. Por essa razão, não surpreende que o rascunho do roteiro tivesse “Mothers and Daughters” como título.

Em várias dessas sequências, as personagens tentam entrar em acordo ao mesmo tempo em que falam línguas diferentes. Greta Gerwig captura essa sensação fazendo com que suas vozes frequentemente se sobreponham e seus olhares raramente se cruzem durante alguns dos diálogos mais importantes. Lady Bird (Saoirse Ronan) e Marion (Laurie Metcalf) se veem pelos reflexos dos espelhos quando conversam sobre assuntos como a depressão do pai e a perda da virgindade da garota, e o mesmo ocorre enquanto ela experimenta um vestido — aí, até a porta do provador entra no caminho do entendimento entre as duas. A cena ainda termina com a mãe literalmente estendendo a mão em direção à filha, num esforço que àquela altura parece insuficiente. Direção atenta, atuações em perfeita sintonia.

Poucos acertos de Gerwig são tão grandes quanto se fechar nos rostos de Laurie Metcalf e Tracy Letts em horas decisivas

Se o foco no relacionamento da protagonista com a mãe já seria suficiente para destacar o filme de tantas outras histórias coming of age, focadas nas dificuldades do amadurecimento, a maneira como o roteiro se volta diversas vezes para os dramas dos adultos é sinal de uma visão bastante madura sobre o gênero. Há vários trechos em que vemos somente Marion e Larry (Tracy Letts) em cena, compartilhando segredos e revelando suas próprias frustrações e temores — os problemas financeiros, o envelhecimento, os sonhos deixados pelo caminho.

Mesmo nas passagens que envolvem diretamente os filhos, é a atenção da diretora para as reações dos atores mais experientes que assegura sua força e as transforma em emoções reais, evitando os clichês pelo caminho. Isso ocorre tanto em momentos de silêncio, como aquele em que Lady Bird pede para ser deixada a algumas quadras da escola por vergonha do pai, quanto para pontuar embates mais duros, como aquele em que a mãe descobre como a filha se sente sobre a vizinhança onde moram. Poucos acertos de Gerwig são tão grandes quanto se fechar nos rostos de Metcalf e Letts nessas horas decisivas.

Pequenas janelas para relacionamentos naturalmente complexos, mas raramente encarados com tamanha franqueza no cinema

Fora do núcleo familiar, “Lady Bird” também encontra formas de construir uma história original de transição no fim do ensino médio. Na escola, por exemplo, é possível rir com as freiras e conselheiras acadêmicas que sempre fogem do padrão quando interagem com a protagonista, assim como se emocionar ao lado do padre Leviatch (Stephen Henderson), que tenta inutilmente esconder sua vulnerabilidade da aluna.

Ainda mais importante é perceber que a garota não se define por um interesse afetivo específico. Danny (Lucas Hedges) e Kyle (Timothée Chalamet) representam capítulos diferentes em sua vida, e o roteiro coloca obstáculos significativos em seus caminhos para que eles efetivamente sejam personagens, mais do que acontecimentos da trama. Isso permite que o filme siga as descobertas e hesitações de Lady Bird dia após dia, tomando os mesmos rumos imprevistos para manter a trama acesa sem se prender por completo a relacionamentos passageiros por natureza.

“Lady Bird” também encontra formas de construir uma história original de transição no fim do ensino médio

Não significa dizer que Gerwig retrate essas paixões sem cerimônia. O que dá o tom das decepções amorosas é a seleção musical, que passa por hits como “Cry Me A River”, de Justin Timberlake, provavelmente parte da trilha sonora de inúmeras primeiras experiências naquela época. Ainda assim, os momentos mais marcantes são embalados por “Crash Into Me”. Em 2002, o sucesso da Dave Matthews Band seguia firme nas rádios e festas de Sacramento mesmo cinco anos depois do lançamento do álbum — segundo a própria diretora, um dos símbolos do “atraso” da cidade em relação aos centros maiores dos Estados Unidos, com os quais a protagonista sonha.

A faixa é recorrente também no longa. Surge na primeira frustração com um garoto e volta assim que a segunda se confirma, mas retorna com outro significado perto do fim, quando Lady Bird encontra conforto junto da melhor amiga, Julie (Beanie Feldstein). A trajetória parece perfeita para uma idade em que uma só música, mesmo que de alcance massivo, consegue representar todos os sentimentos do mundo e expressá-los do modo mais pessoal possível.

Visualmente, chama atenção o olhar da diretora para os detalhes banais que compõem a vida na cidade de Sacramento

O desejo incontornável de conhecer coisas novas é o que mantém Lady Bird em movimento constante, por vezes como um trem desgovernado. Muitas delas musicais, as montagens inseridas por Gerwig na narrativa ajudam a criar um ritmo próprio, indo além de simplesmente indicarem a rápida passagem do tempo. Ainda, ao final de cada uma dessas sequências de acontecimentos vistos quase em flashes, a diretora frequentemente adiciona choques importantes, que tiram os personagens desse clima de sonho e os mergulham de volta na realidade.

O esquema se repete ao longo do filme. É assim que acompanhamos, por exemplo, a boa recepção da peça de Danny, o novo emprego de Miguel (Jordan Rodrigues), a formatura da protagonista no colégio e sua aprovação na universidade — para em seguida lidarmos com as consequências, nem todas positivas, dessas conquistas. Vale notar esse efeito também na sequência em Nova York, que inicialmente soa como uma versão jovem e otimista de “Frances Ha”, mas que depois revela algumas das mesmas dinâmicas complicadas daquele filme, no qual Gerwig trabalhou como atriz e roteirista.

Nessa relação extrema de Lady Bird com o mundo ao seu redor, Sacramento é um dos alvos preferidos. É nesse vínculo com a cidade-natal que o texto de Gerwig, com sua habilidade para criar diálogos criativos e elaborados, mais brilha. O local segue como personagem o tempo todo, atraindo diversas descrições pejorativas pelo caminho (“Aqui é o Midwest da Califórnia!”), mas conservando uma familiaridade acolhedora (que transparece na ligação final da garota para a mãe, por exemplo).

Visualmente, chama atenção o olhar da diretora para os detalhes banais que compõem a vida na cidade, sem grandes pontos turísticos e com pausas nas esquinas ensolaradas e longas caminhadas em frente aos jardins dos casarões de dois ou mais andares, que também fisgam a curiosidade da garota. Em “Lady Bird”, o filme, não há dúvidas de que amar e prestar atenção são a mesma coisa.

nota do crítico

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