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O Oscar 2020 foi o caos perfeito para uma noite histórica

Consagração de "Parasita" no prêmio principal foi a cereja do bolo de uma edição que abraçou por vias tortas o estado de mudança da indústria

por Pedro Strazza

Há muita gente que argumenta que a boa cerimônia de Oscar é definida por uma boa lista de vencedores, uma afirmação que embora dotada de verdade não sintetiza inteiramente a complexidade que é fazer um espetáculo de três horas em torno do que é no fim uma entrega protocolar de prêmios. O triunfo de grandes filmes ajuda sim a tornar a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas memorável, até porque seu magnetismo é capaz de tornar o evento no algo a mais que a organização está sempre a procura todo ano; a questão, porém, é que para viabilizar isso se faz necessário uma apresentação à altura, que sirva à narrativa maior da noite no intuito de ajudá-la a alcançar o destino que ela busca.

Não por acaso, o sucesso da edição deste ano do Oscar residiu em cima destes dois fatores. Para além de contar com um evento de proporções decididamente históricas na vitória de “Parasita” na categoria principal, a 92° cerimônia de entrega dos Academy Awards acabou solidificada por uma razão de fatores tocados por uma lógica de caos, mesmo quando correndo dentro do previsto em quase todas as suas categorias principais – incluindo aí as quatro estatuetas de atuação, cujos donos acabou sendo mesmo o quarteto de artistas antecipados desde o início como vencedores.

Mas este descontrole não se manifestou por vias diretas, dado que a cerimônia foi talvez uma das mais tranquilas da trajetória da organização, mas é resultado de um descompasso interno que atormenta a “instituição” Oscar e outras premiações na última década – uma que gerou questões como o “Oscars So White”, os protestos sobre falta de diversidade entre os indicados e as respectivas expansões dos números de indicados a Melhor Filme e do próprio corpo de votantes da Academia. Por conta de todo tipo de turbulência, o prêmio passou por várias mudanças estruturais nestes últimos anos, e em 2020 enfim elas provaram a que vieram no palco do Teatro Dolby.

Janelle Monáe conduz número de abertura com dançarinos vestidos de filmes indicados e esnobados pela premiação (fonte: Noel West/The New York Times)

O maior sinal deste clima de rompimentos veio logo no número de abertura da cerimônia, que conduzido pela cantora Janelle Monáe e o ator Billy Porter escancarou do início a dessintonia entre o evento e o próprio roteiro que em teoria deveria seguir. Além de Monáe ser introduzida na transmissão numa paródia de “Um Lindo Dia Na Vizinhança” – uma produção “irrelevante” no curso deste Oscar, presente em apenas uma das 24 categorias – o número musical da dupla era apoiado por dançarinos vestidos com figurinos de diversas produções que estavam e não estavam presentes na restrita lista de indicados anunciada em janeiro, incluindo aí esnobados como “Midsommar” e “Meu Nome É Dolemite”.

Conforme o caráter tão dissonante do espetáculo inicial criou um forte impacto entre os presentes, a introdução imediatamente posterior de Steve Martin e Chris Rock no palco para fazer o monólogo de abertura serviu para estabelecer o tom do que a Academia e os produtores da cerimônia almejavam para o Oscar 2020. Além da tentativa (falha) de abraçar a dinâmica instantânea e ácida do Twitter, as piadas feitas pela dupla de comediantes denotavam um desejo do evento em reorganizar a estrutura tradicional do prêmio do novo formato sem host oficial, evitando assim o ritmo acelerado e pouco prudente da 91° edição.

Mas quem precisa de apresentador quando se tem todo o star power de Hollywood à sua disposição, pareceu se perguntar a organização este ano, num questionamento que ficou evidente na maneira como as apresentações das categorias se alongavam bem mais que o necessário – eram os atores e atrizes convidados à tarefa de anunciar os campeões moviam a premiação, seja em números de comédia pontuais ou em questão de representatividade como foi com Zack Gottsagen, primeiro artista com síndrome de Down a ler o vencedor de uma categoria.

(Fonte: Arturo Holmes/Getty Images)

O que a Academia não antecipava, porém, é como essa abordagem mais ágil e movida à base de memes poderia sair do controle sem que eles perdessem as rédeas da cerimônia. A decisão de relegar aos artistas foi ótima para criar uma sensação de cadenciamento à transmissão, mas também abriu espaço para improvisos e uma vulnerabilidade a equívocos que acabaram sendo ótimos à apresentação mesmo quando o resultado era distante do almejado, pois o impacto não se alongava o suficiente para desgastar o que dava certo e também não permitia que os erros se acumulassem por tempo demais. Provas desta situação contraditória surgiram nos piores momentos, como a inexplicável falta de graça da brincadeira de Maya Rudolph e Kristen Wiig na hora de apresentar os vencedores de Melhor Design de Produção e Figurino, mas também nas fagulhas de genialidade dos raros improvisos demonstrados – os quais se destaca sem dúvida a ideia de Rebel Wilson e James Corden de aproveitar um esbarrão no microfone para imitar a postura de gatos enquanto vestidos de seus respectivos personagens de “Cats”.

A cerimônia aos poucos foi descambando para uma posição cafona por conta das decisões criativas seguras envolvidas, mas este cenário de riscos mantinha a chama do show acesa. Mesmo os números musicais caíram nesta condição de desfrute dos absurdos, incluindo servindo o que foi o ápice do non sense da premiação: a apresentação de “Lose Yourself” de Eminem, introduzida ao palco por uma homenagem à música no cinema (que por sua vez foi introduzida por Lin-Manuel Miranda após este ser apresentado ao palco por Anthony Ramos, uma boneca russa e tanto) e que viabilizou o que foi talvez o momento mais “memético” do Oscar este ano – quem não riu com as reações de Idina Menzel, Billie Eilish e Martin Scorsese ao espetáculo mais sem razão de existência da história recente do prêmio, afinal?

Em qualquer outro ano, essa dinâmica possivelmente teria se convertido num vexame sem precedentes para a premiação e incentivado um novo panorama de crise para a Academia, até porque este ritmo pode ser tomado ainda como insustentável para qualquer cerimônia. Para esta edição, porém, a boa velocidade e a predisposição das apresentações para o efeito instantâneo caíram como uma luva para a disputa aparente que se traçava entre os indicados, trazendo à tona o cabo de guerra de “Parasita” com o “1917” de Sam Mendes que as categorias anunciavam e aumentando a tensão subsequente.

Os discursos também ajudaram muito a manter as coisas em ordem: mesmo longe de um viés político mais forte, foram poucos os eleitos que não entregaram falas de impacto na noite – Joaquin Phoenix fez de seu Oscar uma redenção de seus erros do passado e um chamado para a questão ambiental, Brad Pitt e Laura Dern entregaram todo um carinho a estatuetas há muito tempo desejadas, o próprio Bong Joon-ho com sua surpresa cada vez maior perante o número de vitórias crescente de seu filme.

O que a cerimônia deste ano conseguiu que as antecessoras recentes não cumpriram foi que, acima de tudo, ela encontrou no caos das bordas um tom para sintetizar o clima geral da indústria, que passa por transformações intensas nesta virada pros anos 20. Da Fox Searchlight que venceu suas últimas estatuetas na premiação (algo denotado por um dos montadores do vencedor da categoria, “Ford vs Ferrari”) ao streaming que saiu miúdo do Teatro Dolby, o Oscar 2020 não hesitou em abraçar a mudança mesmo que por vias indiretas – e que Jane Fonda tenha sido responsável por anunciar a consagração de “Parasita” como Melhor Filme só demonstra que, de alguma forma, todos ali sabiam o que vinha por aí.

Confira a lista completa de vencedores aqui

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